Ano Bissexto

This article was published on 2025-09-10 .

(Esse texto não é pra ser romântico, mas eu sou uma romântica incurável)

“A gente é tipo ano bissexto” disse o “garoto que eu gosto”, depois do nosso *segundo* encontro em dois anos. Tecnicamente, ano bissexto não funciona assim, e sim de quatro em quatro anos, mas - para propósitos dessa conversa -, a generalização não tava errada. Eu conheci ele no carnaval de 2024, dois anos atrás, em um bloco que tinha caipirinha liberada, ou seja, eu tava muito bêbada e não lembro de muita coisa daquela noite. Mas eu fielmente me lembro de olhar e querer ele, e sentir que ele me queria também.

Na minha cabeça da época (e admito que ainda hoje em dia também) aquilo foi coisa de cinema: eu amo carnaval, amo música de carnaval, amo bloquinhos, amo estar na rua, amo escolas de samba. Só podia ser o amor da minha vida. Seguindo essa lógica, eu tive uns 10 amores diferentes naquele carnaval.

Dois meses depois, ele me mandou mensagem e a gente marcou de sair na mesma semana. Coincidentemente, um dia antes do nosso encontro, eu tive aula no bloco em que ele estudava, Centro de Ciências Humanas, e quando eu sai da sala para beber água eu encontrei ele, sentado, conversando com alguma garota. Acabou virando uma conversa em grupo com outros colegas de sala sobre o quão nosso professor de História da Amazônia era um carrasco. acho que é aquelas situações de quando a pessoa começa a existir no seu universo, e a gente começa a encontrar elas nos lugares.

Pra variar, o encontro foi ótimo, a gente conversou sobre tudo, e se deu muito bem. Eu devo ser uma pessoa muito ansiosa, porque eu lembro de repassar a nossa conversa de cabo a rabo a noite toda, mas agora, passado um tempo, admito não saber tanto do que foi dito.

*

Passado mais ou menos um ano, ele me mandou mensagem, pedindo por um segundo encontro. Eu achei engraçado que ele não tinha mandado mensagem depois do encontro anterior, e também fiquei com vergonha de avisar pra ele que nem na mesma cidade eu estava mais morando, acabei dando uma desculpa tipo “tô com "uns" problemas, e, agora não posso”.

*

Depois de uns 5 dias visitando minha cidade natal, eu mandei mensagem pra ele. Quando a gente saiu, eu me senti imediatamente esquisita. Para uma apresentação resumida, a primeira vez que a gente saiu eu tinha 18 anos e ele 23, agora, cada um com respectivamente, 20 e 25 anos. Muita coisa mudou. era realmente hora de uma nova “aventura”? Valeria a pena o esforço ou eu iria me arrepender? Ele era tão legal como eu me lembrava ou foi só algo que minha cabeça delusional alimentou por carência? Posso ser sincera com ele e baixar minha guarda? Eu genuinamente não confio em nenhum homem. Passada todos esses pensamentos, ele perguntou “mas afinal o que aconteceu com você? Você sumiu!” e eu respondi “ah, muita coisa chata, melhor nem contar” e ele respondeu algo como “Se é chato mesmo melhor nem ficar sabendo”.

Sem nenhum julgamento, sem nenhuma cobrança ou resistência. A partir desse momento, eu deixei as inseguranças de lado e baixei a guarda.

O tempo passa, as coisas se repetem. Lentamente, de uma versão de mim completamente dura e devagar, obcecada pela perfeição, a alguém capaz de contar piadas, rir e fazer rir. Escrevo isso com a empolgação de alguém que sente o riso escapando pelos dedos. Pelo menos, dessa vez ele mandou mensagem depois.

The hurricane with my name when it came

I got drunk and I dared it to wash me away

Barricaded in the bathroom with a bottle of wine

Well, mе and my ghosts, we had a hell of a time

Yеs, I'm haunted, but I'm feeling just fine

All my girls got their lace and their crimes

And your cheating husband disappeared

Well, no one asks any questions here