Normal People de Sally Rooney

This article was published on 2025-10-03 .

Sobre casa

"Marianne tinha a sensação de que sua vida real acontecia em outro lugar, bem distante dali, acontecia sem ela, e não sabia se um descobriria onde era e se seria parte dela."

"As pessoas em Dublin geralmente mencionam o Oeste da Irlanda nesse tom de voz esquisito, como se fosse um país estrangeiro, mas sobre o qual se consideram grandes conhecedores. No Workmans, certa noite, Connel disse a uma garota que era de Sligo e ela fez uma cara engraçada e disse: É, você tem jeito de ser, sim."

Sobre mudar

"Em apenas algumas semanas Marianne vai morar com pessoas diferentes, e a vida vai ser diferente. Mas ela mesma não vai ser diferente. Será a mesma pessoa, presa no próprio corpo. Não existe lugar aonde possa ir que a liberte disso. Um lugar diferente, pessoas diferentes, o que importa?"

"Na sua cidade, a timidez nunca pareceu ser um grande obstáculo para sua vida social porque todo mundo já sabia quem ele era e nunca houve a necessidade de se apresentar ou criar impressões sobre sua personalidade. Na verdade, sua personalidade era como algo externo, gerenciado pelas opiniões dos outros, em vez de algo que ele fizesse ou produzisse individualmente. Agora tem a sensação de invisibilidade, de insignificância, sem reputação que o torne atraente a alguém."

"Depois disso foi embora sem se despedir de ninguém, inclusive de Rachel, que terminou com ele pouco depois. E foi assim, as pessoas se mudaram, ele se mudou. A vida deles em Carricklea, que tinham imbuído de tanto drama e importância, terminou desse jeito, sem conclusão, e jamais seria retomada, jamais da mesma forma"

Sobre amar

"Até nas lembranças ela achará este momento insuportavelmente intenso, e tem consciência disso agora, enquanto ele acontece. Nunca se achou digna de ser amada por alguém. Mas agora tem uma vida nova, da qual este é o primeiro momento, e mesmo depois que muitos anos se passarem, ela ainda vai pensar: Sim, foi aí o começo da minha vida."

"A Lorraine parece ser uma ótima mãe, Marianne comenta. É. Eu acho que é. Ela deve ter orgulho de você. Você é o único garoto da escola que se saiu bem como adulto. Connell dá uma olhadela para ela. Como assim me saí bem?, ele pergunta. Do que você está falando? Todo mundo gosta de você. E, ao contrário da maioria, você é uma boa pessoa."

Sobre sentir tristeza

"Era verdade o que dissera de Connell. Ele não tinha feito nada de ruim. Nunca havia tentado iludi-la, fazendo-a pensar que era socialmente aceitável: ela mesma se iludira. Ele apenas a usara como uma espécie de experimento particular, e sua disposição para ser usada provavelmente o chocara. No final, ele sentia dó dela, mas ela também lhe causava repulsa. De certa forma, ele sente pena dele agora, pois tem que conviver com o fato de que transou com ela, por sua livre escolha, e gostou. Isso diz mais sobre ele, a pessoa supostamente comum e saudável, do que sobre ela. Ela nunca mais voltou à escola, a não ser para fazer as provas. A essa altura as pessoas andavam dizendo que ela estivera no hospital psiquiátrico. Nada disso importava agora, de qualquer jeito."

Sobre solidão

"Na manhã seguinte ela abandonou a escola. Não seria possível voltar, independente de como examinasse a situação. Ninguém mais a chamaria para o baile, isso estava claro. Tinha organizado as arrecadações de fundos, reservado o local, mas não poderia comparecer ao evento. Todo mundo saberia, e alguns até ficariam contentes, e mesmo aos mais solidários só restaria sentir uma terrível vergonha alheia. Preferiu ficar em casa, no quarto, o dia inteiro, de cortinas fechadas, estudando e dormindo em horários estranhos. A mãe ficou furiosa. Portas foram batidas. Em duas ocasiões, o jantar de Marianne foi jogado na lata de lixo. Porém, era uma mulher adulta e ninguém poderia obrigá-la a vestir o uniforme e se sujeitar a ser alvo de encaradas ou cochichos."

"Ele tem poucas aulas por semana, então preenche o resto do tempo lendo. À noite, fica até tarde na biblioteca, lendo textos pedidos pelos professores, romances, crítica literária. Sem amigos para almoçar, lê enquanto come. Nos finais de semana, quando tem jogo, olha as notícias do time e retoma a leitura em vez de assistir às partidas. Uma noite, a biblioteca começou a ser fechada justamente quando chegou a um trecho de Emma em que parece que o sr. Knightley vai se casar com Harriet, e ele teve que fechar o livro e voltar andando para casa em um estado de estranha agitação emocional. Está achando graça de si mesmo, se deixando levar pelo drama dos romances desse jeito."

Sobre ter duas vidas

"Por um instante, parece possível manter os dois mundos, as duas versões de sua vida, e se movimentar entre eles como se cruzasse uma porta. Pode ter o respeito de alguém como Marianne e também ser querido na escola, pode formar opiniões e preferências secretas, nenhum conflito tem que surgir, ele nunca precisará escolher uma coisa em detrimento de outra. Com apenas um pouco de subterfúgio pode viver duas existências totalmente distintas, jamais encarando a questão fundamental do que fazer dele mesmo ou de que tipo de pessoa ele é."

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